Notícia
A água está a tornar-se uma questão cada vez mais desafiante para os gestores de cidades em todo o mundo, tanto nos países em desenvolvimento como nos desenvolvidos. Muitas das maiores áreas urbanas do mundo localizam-se em áreas com escassez hídrica, dificultando a prestação de serviços de águas de boa qualidade a populações cada vez maiores. As alterações climáticas estão a amplificar ainda mais a pressão, aumentando a frequência e a gravidade das secas, inundações, subida do nível do mar e outros fenómenos que colocam em risco os recursos hídricos. Com a previsão de dois terços da população global estar a viver em cidades até 2050, é crescente a premência de as cidades investirem na otimização dos seus sistemas de água, para responderem aos desafios do século XXI.
Estes desafios, por mais ameaçadores que pareçam, podem ser ultrapassados. Através de um planeamento cuidadoso, de uma governação eficaz e da adoção das tecnologias adequadas, os sistemas urbanos podem ser otimizados para fornecerem água abundante e acessível a todos os utilizadores, tanto agora como no futuro.
Com o objetivo de medir o estado da otimização da água em todo o mundo, o Economist Impact desenvolveu um índice de otimização do ciclo urbano da água (city water optimisation index), patrocinado pela DuPont Water Solutions. Consiste em 47 indicadores quantitativos e qualitativos que avaliam até que ponto as cidades dispõem de políticas, infraestruturas e sistemas necessários para otimizarem os seus serviços de águas.
As três categorias gerais de indicadores são: fiabilidade, acessibilidade e sustentabilidade. As pontuações das categorias são calculadas a partir da média ponderada dos indicadores e pontuadas entre 0 a 100, onde 100 é a pontuação mais favorável. A pontuação global do índice é calculada a partir de uma média ponderada simples das três pontuações de categoria.
A fiabilidade significa um sistema de abastecimento que garante que a água é suficiente atualmente e no futuro, através de origens resilientes, qualidade da água e gestão e coordenação eficazes. A categoria de fiabilidade centra-se na forma como as cidades aproveitam eficazmente a água, as normas e protocolos que aplicam para garantir a qualidade da água, e o seu nível de planeamento e previsão estratégica e a longo prazo, apoiados pelas formas corretas de colaboração e coordenação com as principais partes interessadas. As subcategorias de fiabilidade, os indicadores e subindicadores são:
1 Origens de água
1.1 Macromedição da água
1.2 Proteção das origens de água
1.3 Diversificação das origens de água
1.4 Origens de água não convencionais
2 Qualidade da água
2.1 Tratamento para cumprir as orientações relativas à qualidade da água
2.2 Padrões de qualidade da água
2.3 Vigilância da água
3 Gestão e coordenação
3.1 Plano e estratégia a longo prazo
3.2 Colaboração e coordenação (3.2a Coordenação institucional dentro da cidade; 3.2b Coordenação a montante e a jusante)
3.3 Análise de risco e modelação do clima
3.4 Supervisão independente
A acessibilidade significa que os utilizadores finais têm acesso a serviços de água e saneamento seguros e acessíveis, o que implica níveis suficientes de conectividade da água e saneamento, preços equitativos da água e procedimentos de segurança para minimizar os riscos de interrupção, incluindo mapeamento e mitigação de riscos, sistemas de alerta precoce, e monitorização e sensibilização do público sobre os riscos urbanos. As subcategorias de acessibilidade, indicadores e subindicadores são:
1 Conectividade da água
1.1 Acessibilidade residencial
1.2 Acessibilidade não residencial
2 Saneamento
2.1 Cobertura do sistema de águas residuais
2.2 Tratamento de águas residuais
3 Preços equitativos da água
3.1 Cobertura de custos
3.2 Equidade
4 Mitigação de risco
4.1 Estratégia de redução de risco
4.2 Mapas de risco
4.3 Sistemas de alerta precoce
4.4 Sensibilização do público
5 Gestão e coordenação
5.1 Análise de dados
5.2 Acompanhamento e avaliação das infraestruturas
5.3 Melhoria e manutenção das infraestruturas
A sustentabilidade avalia até que ponto os resíduos são minimizados, a eficiência é maximizada e a qualidade da água é adaptada para diferentes tipos de utilização. Inclui inovações como contadores inteligentes e recuperação de nutrientes e energia, políticas de preços para incentivar a conservação, níveis de recuperação de água e melhor perceção pública em relação à reutilização da água, bem como a inclusão dos sistemas prediais de água com os regulamentos de construção e a proteção do ecossistema. As subcategorias de fiabilidade, os indicadores e subindicadores são:
1 Redução de resíduos
1.1 Monitorização da tecnologia (1.1a Contadores inteligentes; 1.1b Sistema de monitorização em tempo real; 1.1c Utilização de inteligência artificial e aprendizado automático, ou machine learning)
1.2 Recuperação de nutrientes e energia (1.2a Lamas de águas residuais; 1.2b Recuperação energética; 1.2c Recuperação de nutrientes)
2 Eficiência
2.1 Continuidade dos serviços de água
2.2 Água não faturada
3 Conservação da água
3.1 Códigos de construção
3.2 Preços incentivadores da conservação
3.3 Educação para a conservação da água
4 Água reutilizada
4.1 Legislação sobre água reutilizada
4.2 Incentivos financeiros para a reutilização da água
4.3 Descentralização da distribuição e do tratamento (4.3a Descentralização da distribuição; 4.3b Descentralização do tratamento)
4.4 Sistemas de distribuição de água reutilizada (4.4a Mandato para a reutilização de água; 4.4b Rede de água reutilizada)
4.5 Perceção pública da água reutilizada
5 Gestão e coordenação
5.1 Colaboração na transformação de resíduos em recursos
5.2 Proteção ambiental
5.3 Princípios de conceção sensíveis à água
5.4 Proteção dos habitats aquáticos críticos e do ecossistema
Em síntese, o objetivo desta proposta de índice é contribuir para que todos os utilizadores tenham acesso a água segura, acessível e fiável, tanto agora como no futuro, sendo uma ferramenta valiosa para os decisores políticos avaliarem o quão bem a sua cidade está equipada para atingir estes objetivos e aprenderem com os seus pares em áreas de inovação, permitindo investimentos mais bem direcionados para um futuro sustentável para todos.
Este índice foi aplicado a meia centena de cidades em todo o mundo. Os resultados da primeira edição são encorajadores e revelam a cidade de Lisboa numa muito agradável quarta posição, com um bom equilíbrio entre acessibilidade, resiliência e sustentabilidade. Surge aliás a liderar a região europeia. O trabalho continuado feito pela EPAL e o recente esforço da Câmara Municipal de Lisboa no sentido da evolução para uma cidade mais verde contribuíram certamente para isso.
Desta análise retiram-se como principais conclusões que: a cidade de Los Angeles obteve a pontuação global mais alta, seguida de perto por Melbourne; a fiabilidade e a acessibilidade foram as duas categorias em que as cidades tiveram melhor desempenho, mas a sustentabilidade é menos pontuada; as cidades de baixo e médio rendimento encontram-se frequentemente entre os melhores desempenhos em pelo menos uma das categorias principais; a maioria das cidades pode fornecer consistentemente água potável de boa qualidade aos seus habitantes; as cidades estão a reconhecer a necessidade de melhor monitorização da água; muitas cidades sofrem de escassez hídrica, tornando ainda mais pertinente alcançar a sustentabilidade da água; a capacidade das cidades para melhorarem as suas pontuações de sustentabilidade passa por melhores políticas; as cidades precisam de pensar na gestão da água como um processo circular e não como uma relação linear entre a oferta e a procura.
Texto extraído e adaptado da publicação “The 2021 City Water Optimisation Index: Achieving reliable, accessible and sustainable urban water systems through innovation and collaboration”, que pode consultar em:
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